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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ratones - Descrição feita por Virgílio Várzea

Na obra Santa Catarina/A Ilha:

Ratones

O povoado dos Ratones eleva-se na várzea (*) banhada pelo rio do mesmo nome, ou antes pelo maior dos braços desse rio que, como vimos, divide-se em dois logo acima da foz, tomando o braço menor para o norte direito às terras de Canavieiras. A denominação de Ratones guarda origem nos dois ilhéus situados em frente ao pequeno estuário do rio, quase em meio à baía do norte, entre o Pontal e Anhatomirim.

Os primeiros navegantes espanhóis que aportaram a Santa Catarina (talvez Sólis, que a descobriu, ou os outros que aí tocaram depois), ao avistarem esses ilhéus deram-lhes o nome de Ratones, pela singular semelhança de ambos com os animais dessa espécie de roedores; e como eram dois, para os distinguir particularmente, passaram, a chamá-los Raton Grande e Raton Pequeno, denominação que se conserva até hoje, bem como a designação geral de Ratones.

O arraial expande-se ao longo da estrada real, pela falda-sul do morro da Várzea Pequena ou Várzea de Baixo e uma e outra margem do rio, cujas nascentes demoram à espalda setentrional do Moquém, monte de 390m de altura, que separa esta baixada dos planos do Saco Grande e que, descendo sempre para oeste, vai ramificar-se em Santo Antônio em pequenas colinas e morros. Pelo Moquém sobe um atalho, empinado e de difícil acesso em tempo chuvoso que encurta consideravelmente a distância entre o Ratones e a cidade, poupando seguramente três quartos de hora da volta por Santo Antônio. Esse atalho atravessa um dos pontos mais altos do monte, entre imensa floresta secular, e corre em parte à beira de perigoso desfiladeiro, assinalado por um ou outro desastre, nos trajetos noturnos, em sítios onde a mata é mais cerrada e sombria.

É célebre e quase lendário aí o caso do negociante Cabral, transeunte frequente desse caminho, o qual, uma noite de tormenta, na mais densa escuridão das ramagens, justamente na descida que margeia o abismo — lugar de um metro apenas de largo, tendo de uma banda um topo a pino de rocha e da outra a fauce do grotão pedregoso, coberta de traidoras ervagens — sentiu o cavalo escorregar e perder-se, rolando em estouros e baques para o fundo do desfiladeiro, enquanto ele, num desespero febril de salvar-se, agarrava-se convulsamente aos arbustos e cipós entrançados, que o detiveram milagrosamente na queda...

Apesar disso, é este o trajeto preferido pela gente de todas as freguesias e arraiais desse lado da Ilha, que viaja continuamente por terra entre esses pontos e a cidade. E nós, duas ou três vezes também, de viagem para Canavieiras, tivemos de trilhar esse atalho, sendo uma delas alta noite — bela noite saudosa e de silente luar! — acompanhado apenas por um crioulo roceiro, falastrão e cantador, mas que no alto do monte, sob a escuridão da folhagem, emudeceu totalmente, num vago terror supersticioso, benzendo-se à entrada e à saída da mata.

Nos Ratones veem-se as mesmas culturas observadas na Várzea de Baixo e outros lugarejos, mais animadas porém por um movimento contínuo de pequenas embarcações — lanchões, canoas e botes — de pombeiros da cidade, que percorrem todo o sítio, pelas voltas fundas do rio, em viagens de comércio. É de certo modo avultado o negócio de galinhas e ovos que se faz no lugar, bem como o embarque de farinha, milho, cana e café, que daí saem na safra.

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Na obra do Frei Vicente do Salvador (História do Brasil), a palavra é grafada "Várgea" e há outros que grafam "Vargem". 

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