Marina Lima promete show enérgico em Florianópolis no próximo sábado
Por telefone, artista falou sobre música, carreira, seu problema nas cordas vocais e Daniela Mercury
Carol Macário
FLORIANÓPOLIS
Beti Niemeyer / Divulgação / ND
Para apresentação na Célula Showcase, cantora prepara uma seleção de músicas "pauleiras"
Marina Lima está debruçada desde segunda-feira na escolha do repertório que ela apresenta neste sábado, em Florianópolis. “Vai ser pauleira, na veia”, avisa ela, com sua sensual voz rouca em sotaque carioca por telefone. Há quatro anos ela não aparecia na Capital, e já que a apresentação será numa casa noturna, a Célula Showcase, a cantora está preparando algo com energia mais bruta, canções que tenham mais força – antigos sucessos e as canções novas. “Mas vai ser pauleira!”
Aos 57 anos, Marina Lima diz que finalmente se considera uma mulher independente. “Antes me achava um projeto de gente”, brinca. Sem saudosismos, ela é uma artista cuja trilha sonora é o agora – e o agora dela, até então, era a literatura: em novembro ela lançou seu primeiro livro, “Maneira de Ser”, uma obra de não-ficção em que reúne memórias e observações sobre sua vida, carreira, música. “Escrever não tem nada a ver com música, não tem melodia e harmonia. Até tem ritmo, mas é outro. É outro tipo de criação.”
Por isso agora ela quer voltar a compor – porque do seu auge nos anos 1980, passando pela ausência dos palcos e depressão até seu retorno, algumas coisas não mudam. “O que não muda é a ambição que tenho – sou compositora e minha intenção sempre é criar uma obra prima, não uma canção que estoura rapidamente. Sou exigente com relação ao meu repertório.”
Por isso a dedicação à escolha do repertório para o show na Capital: “Aí não será possível apresentar o mesmo formado de ‘Maneira de Ser’, show inspirado no livro. Porque não tem como projetar imagens, não é a mesma coisa que uma apresentação em teatro. Mas vai ser um show de coisas que são importantes. Tem que ser na veia, porque o livro é na veia.”
Voz, filosofia e Daniela Mercury
Para Marina Lima, tudo o que interessa para o artista passa pela filosofia, e isso explica a parceria de longa data com seu irmão, o poeta e filósofo Antônio Cícero. “Enquanto artista e ser humano, as questões são sempre as mesmas: por que estamos aqui? O que é bom, o que é mau? Por que amo? Por que odeio?”, diz ela. E passam também pela psicanálise, segundo ela.
Essa segurança e base filosófica se refletem quando ela comenta e lembra momentos cruciais em sua vida, como quando teve as cordas vocais danificadas por conta de um erro médico, e a forma como superou tudo. “O problema é que eu não descobri logo, achei que era uma questão emocional. Torturei-me muito achando que era um problema da minha cabeça. Quando soube, a primeira reação foi de alívio por ver que era realmente um problema físico – eu não estava louca.”
E sua conexão vital com a música contribuiu para que o dano na voz não atrapalhasse o fato de ela ser uma artista, completa, não apenas intérprete. “Não tenho mais toda a técnica a minha disposição, como antes. Eu canto, não como cantava antes. Mas eu sou uma artista, não apenas cantora.”
Homossexual assumida há muitos anos, Marina Lima acha que Daniela Mercury assumiu seu relacionamento com Malu Verçosa num momento muito oportuno. “O Brasil tem sido bombardeado com afirmações retrógradas”, lamenta. E dispara: “as pessoas não tem que gostar ou não gostar, aceitar ou não aceitar. Tem que simplesmente respeitar.”
Serviço
O quê: Show com Marina Lima
Quando: Sábado, 23h
Onde: Célula ShowCase, rod. João Paulo, 75, João Paulo, Florianópolis, tel. 3209-7819
Quanto: R$ 100 / R$ 50 (meia)
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