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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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domingo, 17 de março de 2013

Judeus na Ilha de Santa Catarina/Brasil e a ação dos jesuítas

Lembrei-me de republicar a postagem abaixo, de 2009, ante a referência ao procedimento dos jesuítas (congregação do novo Papa), aqui nas nossas paragens: 


Afirma Jacques Schweidson (in A saga judaica no Desterro), que grande número de “cristãos-novos” (os judeus que fingiam se haver convertido ao catolicismo, que os espanhóis chamavam, pejorativamente, de "marranos" = porcos) vieram parar na Ilha de Santa Catarina/Desterro: esse grupo de açorianos era mesclado de fervorosos católicos e muitos descendentes de judeus, forçados, violentamente, a uma aparente assimilação que impunha o abandono das antigas práticas religiosas (p. IX).

O professor Nereu do Vale Pereira (in Santa Catarina/A Ilha/500 anos Origem de sua denominação e outros feitos – Ed. Da Fundação Cultural Açorianista/Fpolis-SC/2004, p. 77) afirmou que na comitiva de Solis (1526-1527) que aqui permaneceu, encontrava-se um tal Henrique Ramirez, que chegou a ser intitulado o “patriarca dos carijó”. Ora, é sabido que os patronímicos que terminam com “ez” são de pessoas de etnia judaica.
Além daquele, alguns patronímicos ditos da etnia judaica, de famílias que habitam nossas paragens e este imenso Brasil seriam: Azevedo, Cardoso (ou Cardozo), Costa (em outros países conhecidos como Acosta, que aqui teriam adotado o disfarce do patronímico Livramento), Homem (Omen, em espanhol), Oliveira, Pereira, Ribeiro, Silva, etc... 

Outros, ainda segundo Schweidson (obra citada – ps. diversas), seriam os: Blum, Camisão, Carneiro da Cunha, Carreirão, Cohen, Cuneo, Cunha, Dicker, Gama D´Eça, Goldstein, Lerner, Livramento, Luz, Mâncio Costa, Mesquita, Meyer, Moritz, Moura, Mourão, Prates, Simoni, Soncini, Vieira da Rosa, Waismann, Yankilevitch e Zveibel. 

Cita Emílio Blum, que não seria Coronel, mas Engenheiro e teria sido o primeiro judeu a tomar assento na Câmara Federal da República, com mandato exercido entre 1894 e 1896.

Também seria judeu, maçon e teria usado, permanentemente, o solidéu, o Dr. Hermann Blumenau, desde a Alemanha, no dizer de Schweidson. E, no entanto, curiosamente, em Blumenau e Joinville (onde, inclusive o Dr. Blumenau teria fundado uma Loja Maçônica), surgiram os adeptos mais radicais do germanismo. Em Blumenau, chegou-se, até mesmo, a negar hospedagem a viajantes comerciais judeus e, em Joinville, teria ocorrido uma forte presença integralista, historicamente associada ao catolicismo, responsável por pressão permanente em cima dos descendentes de hebreus.

Completa suas interessantes informações falando da figura de Francisco Rodrigues dos Santos Saraiva, que seria filho de rabino e, de religioso católico, após abandonar a batina, por volta de 1875, teria aberto luta sem tréguas contra o clero e a Igreja católica. 

Finalmente, cabe alusão a uma frase atribuída ao Prof. Mâncio Costa, citado na página 291, da obra de Schweidson: “Quem é que não descende de judeus em Florianópolis?”.

Mas é certo que, com raríssimas exceções, nossa população não tem a menor consciência de judeidade, resultado, possivelmente, da discreção dos eventuais adeptos do judaísmo e também do trabalho renitente da religião católica, que sempre lançou contra os judeus anátemas que os rotulam como assassinos de Cristo, comerciantes usurários e exploradores das outras nacionalidades, envenenadores de águas, assassinos de crianças em seus rituais desde o ano 480 de nossa era (Gustavo Barroso – História Secreta do Brasil, páginas 292 e seguintes), entre outros estereótipos, de modo a intimidar os “da nação infecta”. 

E os ataques católicos contra judeus só não foram maiores, no mundo todo, provavelmente porque os judeus, valendo-se da Maçonaria, conseguiram infiltrar-se desde o baixo clero até os mais altos escalões do Vaticano, assim como o fazem na política, nos Tribunais, nos meios de comunicação de massa, nas Universidades,  etc...

A presença do alemão em SC, inclusive muito próximo da Capital (como na Colônia que se fundou no atual Município de Celso Ramos e também em São Pedro de Alcântara e adjacências), trouxe consigo a idéia de “germanidade”, que implica ojeriza do povo alemão pela etnia judaica(15). O pan-germanismo, de Frederico II, Fichte, Moltke, Bismarck e Treistschke, seria uma expressão radical da tal “germanidade”.

De outro lado, o “sionismo” (termo derivado de Monte Sión, usado pela primeira vez num periódico hebraico de 1890 e fortalecido a partir da edição de O Estado Judeu, de Theodor Herzl, um jornalista e autor teatral nascido em Viena) representaria a esperança da etnia judaica de retorno à sua pátria, materializada no Salmo nº 137, segundo Michael Comay (Sionismo, Israel e os árabes palestinos - Edit. pela Embaixada de Israel/1983, p. 7).

Na história do Estado de SC, é bastante conhecido o renhido combate travado entre judeus e cristãos, na esfera política. Haviam, na década de 1830 e seguintes, dois partidos, um deles representativo da corrente dita liberal (porisso oficialmente chamado Partido Liberal, que evoluiu para o Partido Republicano) e outro, representativo da corrente conservadora (Partido Cristão). 

Dentre os liberais (judeus), avultou, entre outros, a figura do lagunense Jerônimo Francisco Coelho, o chamado “Patrono da Imprensa Catarinense” e entre os conservadores a pessoa do Arcipreste Paiva. 

Circunstância deplorável, naqueles episódios de radicalização política-partidária, foi a existência do “tronco” criado pelo Partido Cristão, com apoio na congregação dos inacianos (jesuítas). Aplicava-se um castigo de tortura, usando-se o tronco para amarrar os oponentes políticos. 

O embate entre as duas correntes, que teve como pretexto a edificação do mercado público e demolição de barraquinhas, perdurou entre 1834 (criação do Partido Liberal) e 1860, quando morreu Jerônimo Coelho.

Mas tal embate não era típico de nossa região. A obra de Gustavo Barroso, um apaixonado anti-semita, mas que, inequivocamente, tem seus méritos como escritor e historiador, intitulada História Secreta do Brasil (terceira parte/Da maioridade à República), editada pela Civilização Brasileira S.A./RJ/1938, deu destaque à extensão do conflito que ocorreu entre “liberais” e “conservadores”, às manobras da Maçonaria e da Bucha, envolvendo figuras de proa da história brasileira, entre elas Teófilo Otoni (mineiro), Bento Gonçalves (sul-rio-grandense), o Barão de Mauá (a quem retrata como homem poderosíssimo, em virtude do capital de que dispunha) e muitos outros, recebendo os adeptos das duas facções apelidos curiosos e ofensivos como “Luzias”, “Saquaremas”, “Chimangos”, “Caranguejos”, “Praieiros” e “Guabirus”. Prossegue informando: 

“(...) Sob a rubrica Geral de Conservador e Liberal parecia haver dois grandes partidos nacionais no Império. Não era, porém verdade. Êles se haviam constituído de vários grupos com tendências as mais díspares, sobretudo a Liberal, com exaltados e moderados, se eivavam nas províncias e localismos, bairrismos e regionalismos característicos, se subdividiam e se guerreavam nas subdivisões com inaudita ferocidade, uniam-se em coligações passageiras para vencer esta ou aquela eleição e se separavam com ainda maior rapidez. A maçonaria tinha magnífico campo de ação no meio de toda essa confusão. (...)". 

E arremata afirmando que as ações dos liberais se inseriam num contexto de movimentos tramados pelo judaísmo nos dois hemisférios, que teriam resultado em vários golpes revolucionários (1848), tudo isso sucedendo a publicação, em 1847, do Manifesto Comunista, do judeu Mardoqueu, vulgo Karl Marx (...).

Pode parecer exagero de Barroso a influência da Maçonaria naquela época. Mas, seu livro nos traz informações que dão muito no que pensar, no que tange, por exemplo, a pessoas cujos nomes foram homenageados em denominações de logradouros públicos de nossa Capital, todos ditos por ele “pedreiros livres” (maçons), a saber: Jerônimo Coelho, Padre Roma, desembargador Joaquim Nunes Machado, capitão Pedro Ivo, Bento Gonçalves, Padre Diogo Antonio Feijó, Saldanha Marinho, Frei Caneca, Rui Barbosa, Tiradentes, Duque de Caxias, entre outros. 

No outro pólo, também a religião católica conseguiu homenagear seus pupilos, com nomes de ruas, com grande freqüência. É o caso do próprio Arcipreste Paiva (o líder dos conservadores à época de Jerônimo Coelho), Monsenhor Topp, Dom João Becker (Ingleses), etc...

Cumpre acrescentar que a população brasileira é composta, segundo alguns, pelo segundo maior contingente de descendentes da nação hebréia na América Latina, superado, apenas, pela da Argentina, mas, no outro extremo, os católicos são (ou eram, antes dos evangélicos ?) maioria no Brasil. 

Assim, as duas forças vivem a medir-se, constantemente, embora, em determinados assuntos (como quando da constituinte de 1988,  para manter a referência a Deus no preâmbulo) se unam e endossem a afirmação de Renan, citado por Schweidson, de que Cristãos não passam de judeus falsificados

Aqui me ocorre o capítulo da livro intitulado História Geral do anti-semitismo, de autoria de Gerald Messadié (Editora Bertrand Brasil Ltda/RJ/2003, p. 127), onde se lê que o judaísmo, à época do nascimento da religião católica, estaria muito dividido, chegando-se a contar nada menos que 24 seitas distintas (as minim). 

E o aludido escritor conclui que as religiões cristãs teriam resultado de uma subtração do judaísmo, não sendo, assim, compreensível porque a Igreja católica, derivada dos ensinamentos de um notório judeu (Jesus Cristo) teria ensejado o surgimento do anti-semitismo

Quem desejar maiores informações sobre o conflito entre liberais e conservadores aqui na Ilha poderá consultar a obra de Élio Cantalício Serpa (Igreja e poder em Santa Catarina - Editora da UFSC/Florianópolis-SC/1997, p. 166), onde se refere vasta bibliografia sobre a matéria.

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