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terça-feira, 28 de agosto de 2012

A ESTRUTURA DE PECADO DO PARAGUAI



Corrupção, violência, lavagem de dinheiro, pobreza, desigualdade social: fatores negativos que só a fraternidade cristã pode superar


Carmine Tabarro

O Paraguai é um daqueles países onde a "estrutura de pecado" evocada por João Paulo II na Sollicitudo Rei Socialis, número 36, é bem tangível. O país é caracterizado por problemas internos e externos. Foram sessenta anos de ditadura do Partido Colorado (conservador), que agora está de volta ao poder. Em Assunção, conheci algumas freiras que se opuseram à ditadura e sofreram por isso torturas consideráveis.

Um bispo e teólogo da libertação, Fernando Lugo, que preferiu a política ao ministério episcopal e por isso foi reduzido ao estado laical, tornou-se presidente de um Paraguai assolado pela corrupção generalizada, pela difícil aplicação da lei, pela violência terrorista e de quadrilhas, pela precária governabilidade, pela pobreza muito difundida, pela grande desigualdade social, pelo alto desemprego e subemprego, pela infraestrutura deficitária, pela existência de empresas públicas inadequadas em setores fundamentais, pelo direito à saúde restrito apenas a alguns poucos, pela lavagem de dinheiro dos cocaleros denunciada pela ONU, etc.

Como se tudo isso não bastasse, Lugo foi destituído da presidência pelos dois maiores partidos (Liberal e Colorado), por "má conduta no desempenho de suas funções". O "mau comportamento" se refere à gestão de um conflito entre a polícia e o movimento local dos sem terra, que deixou 17 mortos (6 militares e 11 sem terra).

De acordo com muitos observadores dentro e fora do país, foi um "golpe político" liderado por lobbies e multinacionais. A situação, apesar das condições negativas dos primeiros momentos, parece mover-se rumo à normalização. O líder do país é agora Federico Franco, ex-aliado de Fernando Lugo, do Partido Liberal.

Temiam-se sérios confrontos entre as facções opostas por causa do "golpe de estado técnico", mas, excluindo-se manifestações esporádicas com poucas centenas de simpatizantes de Lugo, o clima no país é "normal".

Um papel importante na pacificação está sendo desempenhado pela Igreja. A Conferência Episcopal do Paraguai informa: "Dada a grave crise política da República, voltamo-nos, como bispos do Paraguai, aos representantes do governo e a todos os cidadãos, para expressar mais uma vez a nossa exortação à paz e à salvaguarda da vida humana como valor supremo".

Para o presidente da União dos Industriais, Edoardo Felippo, "a economia do país não sofreu choques". Esta afirmação é confirmada pelos dados sobre as atividades bancárias e pela cotação do dólar.

O risco que o Paraguai corre atualmente é o de um posterior isolamento internacional. Já no ano passado, quando fui a Assunção a convite da Universidade Católica, notei que o Paraguai estava fora dos circuitos da grande mídia, sensação que me foi confirmada pelo reitor da universidade.

Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador, Venezuela e México não reconheceram o governo de Federico Franco, porque, a seu ver, a "destituição" de Lugo seria o resultado de uma operação de empresas multinacionais e de lobbies políticos.

Apesar destas acusações, o novo ministro de Assuntos Exteriores, José Fernández Estigarribia, se disse "confiante" na possibilidade “de uma rápida normalização [das relações] com os vizinhos”. O governo dos EUA tampouco reconheceu o governo de Franco, no aguardo de uma decisão formal da Organização dos Estados Americanos.

O presidente Franco, com maioria parlamentar, lançou, no entanto, uma série de reformas populares. Em um país com forte desigualdade, o governo introduziu um aumento 10 pontos percentuais na alíquota sobre rendimentos pessoais superiores a US$ 48.000 por ano. Franco também retomou os procedimentos para a alocação de terras aos camponeses, com cerca de 80 atribuições diretas nas últimas semanas, enquanto Lugo tinha concedido muito poucas, apesar das promessas.

Considero útil conhecer a situação do Paraguai, que tem muitas semelhanças com outros países da América do Sul. São contextos em que o extremo desequilíbrio econômico e social entre as classes é acompanhado pela alta corrupção da classe política, pela evidente "direitização" de governos que fingem ser democráticos, mas são escravos de poderosos lobbies, nem todos transparentes.

É de notar-se também que as dificuldades para governar o país se devem, sobretudo, à fraqueza em termos de recursos do orçamento público, já que no Paraguai, até a última manobra fiscal que mencionei, não se pagava o imposto de renda pessoal.

As prioridades do governo deveriam se concentrar em combater a pobreza, em criar empregos e em melhorar os direitos à segurança e à saúde. Mas a melhor interpretação das doenças do Paraguai, mais uma vez, está nas páginas proféticas da Sollicitudo rei socialis.

Muito claramente, o texto afirma que o primeiro motivo da falta de desenvolvimento não é só econômico, mas é "a ausência de uma eficaz vontade política... Devem ser identificadas, portanto, as causas de ordem moral que, no âmbito do comportamento dos responsáveis, interferem para retardar o curso do desenvolvimento e dificultar a sua realização plena".

O texto fala ainda de um mundo submisso a “estruturas de pecado. Elas são a soma dos fatores negativos que atuam contra uma verdadeira consciência do bem comum universal e a exigência de favorecê-lo”.

“Pecado e estruturas de pecado”, escreve o papa, “são categorias que não costumam ser aplicadas à situação do mundo contemporâneo. As estruturas de pecado estão enraizadas no pecado pessoal e, portanto, vêm sempre ligadas a atos concretos e livres das pessoas que as provocam, as consolidam e as tornam difíceis de remover". A compulsão pelo lucro e a sede do poder são, em todos os níveis e em todos os campos, os aspectos negativos mais característicos.

Mesmo separáveis, são "indissoluvelmente unidos (...) e neles podem estar envolvidos não apenas os indivíduos, mas também as nações e seus blocos". Só a fraternidade humana e cristã, reafirma João Paulo II com grande convicção, pode vencer as "estruturas de pecado".

(Tradução:ZENIT)


Fonte: ZENIT

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