EUA já gastaram mais de US$ 1 trilhão com guerras no Afeganistão e Iraque
Só em 2009, a indústria bélica movimentou US$ 1,5 trilhão no mundo todo
Comparando-se a qualquer outro país do mundo, os EUA ganham disparados em gastos relacionados ao setor militar (AFP)
No mês de junho, considerado o mais sangrento para as tropas estrangeiras no Afeganistão, o conflito completou oito anos e oito meses, superando a participação americana na guerra do Vietnã (1965-1973). A atual ofensiva se tornou, com isso, a mais longa expedição militar dos Estados Unidos no exterior, contando hoje com cerca de 130.000 soldados da coalizão, liderados pelas forças americanas. Conflitos como o do Afeganistão acabaram ajudando a consolidar, na última década, uma imponente indústria bélica que movimenta cifras extraordinárias, com a venda de armas, veículos, instrumentos e serviços.
De acordo com um documento divulgado em junho de 2010 pelo Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Sipri), só em 2009 os gastos militares em todo o planeta chegaram a aproximadamente 1,531 trilhão de dólares, garantindo uma grande margem de lucro às empresas privadas do setor. O valor representa um aumento de 5,9% em comparação aos gastos de 2008, e um salto de 49% desde 2000.
A perspectiva é de mais crescimento ainda no próximo ano. "O governo britânico investiu um total de 15 bilhões de dólares em operações militares no Afeganistão até março de 2010. Somente para 2010-2011, serão destinados mais 4 bilhões", exemplifica Sam Perlo-Freeman, diretor de um projeto sobre gastos militares do Sipri.
Comparados a qualquer outro país do mundo, porém, os Estados Unidos ganham disparados em gastos com o setor militar. Segundo Freeman, um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso americano revelou que só o governo atual destinou 330 bilhões de dólares à guerra do Afeganistão no ano fiscal de 2010. Em 2009, Washington já havia aprovado um estímulo de 800 bilhões de dólares exclusivamente para o Departamento de Defesa, destinados a outras despesas, que não incluíam armas e serviços militares.
Os Estados Unidos e as guerras
As guerras no Afeganistão e no Iraque juntas custaram aos EUA pouco mais de 1 trilhão de dólares, destinados diretamente ao setor militar de 2001 até o fim do ano fiscal de 2010, revelou Freeman. Esses valores se referem à contratação de serviços e aquisição de equipamentos, como veículos blindados, aeronaves de carga e helicópteros, entre outros. Mas eles não incluem gastos extras, como os custos com soldados feridos e com a saúde de veteranos de guerra.
Pesquisadores estimam que apenas em 2008, se esses valores fossem incluídos na conta – juntamente com os custos de reconstrução dos países ocupados e com o impacto da guerra do Iraque no preço do petróleo –, o total dos gastos para os EUA chegaria aos 3 trilhões de dólares. De 2007 para 2008, os valores envolvidos na compra de armamento militar nos Estados Unidos subiram de 205,7 para 229,9 bilhões de dólares.
Conflitos no Afeganistão e no Iraque alimentam vendas de serviços e equipamentos militares
Neste ano, no entanto, pela primeira vez desde o início da listagem da Sipri com as dez maiores empresas do setor militar, em 1998, uma companhia de fora dos Estados Unidos conseguiu chegar ao topo do ranking: a britânica BAE Systems. Além disso, a russa Almaz-Antei passou a fazer parte dos 20 maiores fornecedores de armas do mundo.
A indústria bélica americana
Com a entrada dos Estados Unidos na guerra do Afeganistão, após os ataques de 11 de setembro de 2001, o setor militar do país voltou a ficar em evidência. “Há um foco maior no suporte às operações de guerra e à compra de equipamentos para forças terrestres”, afirmou Michael O’Hanlon, ex-analista do Congresso para assuntos orçamentários e pesquisador sobre estratégia militar da organização independente Brookings Institution.
Parte imprescindível da política externa dos EUA, a indústria bélica é prioridade financeira do governo americano. Especialistas explicam que é comum ainda o intercâmbio de funções: quando militares de alta patente se aposentam, podem assumir um lugar nos conselhos de administração de empresas do setor bélico, e empresários desse ramo também podem acabar nas cadeiras do Congresso. O’Hanlon nega, no entanto, que o governo lucre com os negócios. “As guerras são responsáveis por grande parte do nosso déficit, que gira em torno de um trilhão de dólares”, justifica.
Além disso, de acordo com a diretora de um projeto sobre produção de armas do Sipri, Susan Jackson, o investimento do governo americano no setor militar conta com a aprovação de muitos americanos. “É importante entender que grande parte da sociedade assume que o investimento no setor militar é bom, natural e necessário. Essa percepção torna mais complicado questionar ou criticar a quantidade de dinheiro que alimenta essa indústria”, diz.
Fone: Rev. VEJA
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