Verseja desde os 8 anos, precoce como todo bom poeta, eis que uma alma sensível não se forma, já nasce assim. O que demora, às vezes, é a aquisição de coragem para por prá fora o que se sente e se deseja externar.
Submissão
Você lutando para ter
Eu sempre buscando ser
Alguém que seja lembrada
Você compra o que quer
Eu aceito o que vier
Andando na sua estrada
Vou contra a minha vontade
pela minha lealdade
A tudo que você diz
Mas eu, não acho direito
Fazer tudo do seu jeito
Fingindo que sou feliz
Embora sendoi, sozinhos
Seguimos o mesmo caminho
Unidos pela razão
Presos no mesmo espaço
Mas cada um, no compasso
De seu próprio coração.
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MENDIGO
Deitada no meio da rua
a criança, quase nua
Tremendo de frio, seu corpinho
Levanta e caminha para mim
Na esperança de um sim
Implora por um trocadinho
Olho para ela, lamento
Não poder seu sofrimento
Acabar com uma esmola
Pois existe um pai cretino
Que explora o seu menino
Que devia estar na escola
Vagando nas avenidas
Essa criança sofrida
Poderá realizar?
Os seus sonhos mais profundos
Como o de ser alguém, neste mundo
Sem precisar esmolar?
Volto para casa, pensando
Naqueles que estão matando
E nada podem sentir
Está bem na sua frente
A dor que a criança sente
E mesmo assim, lhe sorri.
-=-=-=-=
Muitos outros versos, de igual beleza e inconteste sensibilidade, compõem o livro da poetisa referida (Fala meu coração), que me foi emprestado pela amiga DORCI LINHARES.
A poetisa (talvez eu vá ser reundante) compôs uma obra prenhe de melancolia e sofrimento, permeada de testemunhos da incompreensão alheia e reclamos veeementes contra as injustiças, obra que revela, portanto, uma alma, de certa forma atormentada (que poeta ou poetisa não se vê insuflado a produzir pelas angústias e esperanças da vida?) inconformada, desgastada pela vida, mas, sobretudo, meiga, corajosa, capaz de botar pra fora, no papel, muito do que se passa no seu íntimo, ao que parece.
Os poemas são tristes, mas engajados, revelando muita sensibilidade social também e, salvo algum engano de minha parte (eis que não tive o prazer de conheçer a autora, pessoalmente, ainda) mostram, de outro lado, que não perdeu a auto-estima e a coragem de se expor.
O melhor de tudo é que parece não ter perdido a esperança de se ver reconhecida e valorizada, apesar de toda a sua melancolia e da consciência da finitude de qualquer ser humano:
"Quero vida"
(...)
Também quero viver a vida
Que escorre entre os meus dedos
Quero querer, ser querida
Quero esquecer os meus medos
Quero ter o direito de ser
Quero também, a esperança
De querer o que posso ter
Antes que eu seja lembrança.
Que me perdoe a Geisa se fiz uma idéia errada da sua pessoa, porque julgar alguém que se conhece, mais intimamente, já é muito difícil, quanto mais avaliar aqueles de quem se tem notícias apenas pela sua obra.
A Odete Ronchi Baltazar (Ver www.odetepoesias.com.br/id.htm), amiga e poetisa também, com sensibilidade e estilo muito próximos ao da GEISA, certamente vai apreciar o pouco que transcrevi acima.
Um comentário:
Oi Izidoro. Também ouvi falar de você pela nossa amiga em comum Dorci Linhares. Agradeço seu comentário sobre o meu livro, os elogios e tb a "avaliação da minha alma" Não precisa se desculpar por isso. Eu sou exatamente o que está escrito. Você deve ser tb uma pessoa sensivel, pois conseguiu me ver através de palavras. Acredito que, um dia, possamos nos conhecer pessoalmente. Abraços Geisa
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