16/07/2010 07h15 - Atualizado em 16/07/2010 07h41
Ruínas e relíquias históricas do Iraque sofrem com novas pilhagens
Sítios arqueológicos no país não têm mínimas condições de segurança.
A pilhagem das ruínas antigas do Iraque está ocorrendo novamente. Desta vez, ela não vem como resultado do caos que se seguiu à invasão dos Estados Unidos, em 2003, mas da indiferença burocrática do novo governo soberano no país.
Milhares de sítios arqueológicos – contendo alguns dos mais antigos tesouros da civilização – foram deixados sem proteção, permitindo o que as autoridades da comissão de antiguidades do Iraque dizem ser um reinício de escavações audaciosamente ilegais, especialmente no sul do Iraque.
A nova força policial de antiguidades, criada em 2008 para substituir as tropas dos EUA que se retiravam, deveria ter mais de 5 mil policiais até agora. Ela tem 106, apenas o bastante para proteger seu quartel general – uma mansão da era otomana às margens orientais do rio Tigre, em Bagdá.
“Estou sentado em minha mesa e estou protegendo as ruínas”, afirmou com exasperação o comandante da força, o brigadeiro-general Najim Abdullah al-Khazali. “Com o quê? Palavras?”
O fracasso em recrutar e usar a força (e as consequentes pilhagens) reflete uma fraqueza mais ampla nas instituições de estado e lei do Iraque, enquanto o exército norte-americano se retira de forma constante – deixando para trás um legado de incerteza.
Muitos dos ministérios do Iraque continuam frágeis, minados pela corrupção, pelas divisões incertas de poder e recursos e pela paralisia política que consumiu o governo antes e depois das eleições deste ano.
No caso das ruínas antigas do Iraque, o custo foi a perda incalculável de artefatos da civilização da Mesopotâmia, uma história que os líderes do Iraque frequentemente evocam como parte da antiga e, antecipando as pesquisas arqueológicas e o turismo, futura grandeza do país.
“As pessoas que tomam essas decisões falam tanto sobre história em seus discursos e conferências”, afirmou o diretor da Comissão Estadual de Antiguidades e Patrimônio, Qais Hussein Rashid, referindo-se às dificuldades da nova força policial, “mas não fazem nada”.
As pilhagens não foram retomadas na escala dos anos imediatamente subsequentes à invasão dos EUA, em 2003, quando os saqueadores – ladrões de túmulos, basicamente – atacaram locais de todo o país, deixando para trás crateras onde existiram cidades sumérias, acadianas, babilônicas e persas.
Mesmo assim, autoridades e arqueólogos relataram dúzias de novas escavações durante o ano passado, coincidindo com a retirada das tropas americanas, que até 2009 conduziam operações conjuntas com a polícia iraquiana em muitas regiões hoje sendo atacadas, mais uma vez, por saqueadores. A polícia das antiguidades afirma não ter recursos nem mesmo para manter registros das pilhagens relatadas.
Aqui, a pilhagem é evidente nos fragmentos da civilização – pedaços de cerâmica, vidro e pedra esculpida – espalhados por uma extensão do deserto que já foi uma cidade suméria de comércio, conhecida como Dubrum.
Os vasos, tigelas e outras peças são destruídas e descartadas por saqueadores que buscam ouro, joias e cilindros ou placas cuneiformes que são fáceis de contrabandear e revender, segundo Abdulamir al-Hamdani, ex-inspetor de antiguidades na província de Dhi Qar. A cidade mais próxima, Farj, é notória por seu mercado negro de antiguidades saqueadas, disse ele.
“Para mim, para você, tudo aquilo não tem preço”, disse ele. “Mas, para eles, o que não pode ser vendido no mercado é inútil”.
O sítio de Dubrum – que se esparrama por quilômetros numa região pouco povoada – é marcado por centenas de trincheiras, algumas com mais de 3,5 m de profundidade. No fundo de algumas delas é possível ver os tijolos de tumbas, marcando a área como um cemitério.
Al-Hamdani disse que as tumbas são os alvos mais bem avaliados – para arqueólogos e saqueadores.
Muitas das trincheiras datam do caos pós-invasão, mas outras foram recém-cavadas. No mês passado, alguém usou um trator e fez um corte de meio metro no deserto, revelando os tijolos e o betume de uma escada possivelmente levando a outro cemitério. Os materiais datavam ao período babilônico, no século VII a.C.
A precisão do novo saque indica uma especialização.
“O ladrão está em casa”, disse al-Hamdani, sugerindo que muitos dos envolvidos trabalharam nos sítios anos atrás, quando ocorreram as legítimas escavações arqueológicas – antes da guerra que derrubou Saddam Hussein.
Um beduíno reportou a nova escavação à polícia local em Dhi Qar, mas não havia muito que os policiais podiam fazer além de atrair a atenção pública ao problema.
O sucessor de al-Hamdani como inspetor de antiguidades para a província, Amir Abdul Razak al-Zubaidi, reclamou que não tinha verba nem mesmo para a gasolina usada ao dirigir aos locais de novos saques.
“Nenhum guarda, sem cercas, nada”, disse al-Hamdani. “O local é enorme. Você pode fazer o que quiser”.
Até a criação da polícia de antiguidades em 2008, a responsabilidade de proteger sítios arqueológicos ficava com a Polícia de Proteção Federal, criada, equipada e treinada pelos militares americanos. A polícia federal, entretanto, também protege autoridades e prédios do governo, como escolas e museus. As ruínas, algumas delas apenas trechos desolados no deserto, ficavam bem abaixo na lista de prioridades.
Em vez de preencher a lacuna, a criação da polícia de antiguidades a aprofundou. As diversas forças militares e policiais do Iraque simplesmente deixaram o assunto a uma agência que, quase dois anos depois, nem mesmo opera efetivamente.
Rashid, diretor da comissão de antiguidades, também disse que a solicitação de sua agência para um orçamento de US$ 16 milhões em 2010 foi reduzida para US$ 2,5 milhões. Os policiais prometidos pelo Ministério do Interior ainda não se materializaram, apesar de uma ordem, no ano passado, do primeiro- ministro Nouri al-Maliki.
“Nem tudo que o primeiro-ministro pede a seus ministros é obedecido”, explicou ele.
Um porta-voz do Ministério do Interior não quis comentar a situação atual da polícia de antiguidades.
Rashid continuou, afirmando que os saqueadores de algumas províncias do sul – incluindo Dhi Qar e Wasit – operavam com a conivência das autoridades da lei.
“A mão da lei não consegue atingi-los”, disse ele.
O extenso e duradouro impacto das pilhagens em locais como Dubrum podem nunca ser conhecidos, já que eles jamais foram adequadamente escavados.
Al-Zubaidi, o inspetor em Dhi Qar, comparou a crise atual com os saques ao Museu Nacional em Bagdá, uma pilhagem extrema que estimulou o mundo a fazer algo. O destino do museu continua atraindo uma atenção muito maior do governo e dos benfeitores internacionais.
“A maioria das peças roubadas do Museu Nacional será recuperada”, disse al-Zubaidi. “Todas elas eram marcadas e registradas”.
Quase metade das 15 mil peças saqueadas do museu já foi devolvida.
“As peças que foram roubadas daqui nunca voltarão”, concluiu ele. “Elas estão perdidas para sempre”.
Fonte:G1
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